sábado, 12 de setembro de 2009

Geração sem avós


Uma das grandes recordações que eu guardo desde criança é a minha relação afetiva com meus avós. Especificamente quero me deter neste momento as figuras das minhas avós. Não que meus avôs não tenham tido um significado para mim, mas é a minha atenção neste momento que me conduz à elas.

Fisicamente as achava um pouco parecidas…ambas possuíam olhos claros, pele branca, estatura mediana. Mas, percebia algo a mais em comum que de certa maneira , o meu olhar e coração de criança as distinguiam de outras mulheres, inclusive da minha mãe: elas eram avós.

A ternura nos seus gestos, o sorriso largo diante nossas exibições para chamar suas atenções, o brilho do olhar ao nos ver saindo do carro indo em direção aos seus braços, a paciência para rever um filme que já assistiu e que estava se reeditando através dos netos, o prazer de fazer aquele bolo de laranja ou de chocolate aos sábados, o qual exalava pela casa inteira um cheiro que não era somente do bolo, mas um cheiro que tinha um significado de lar, de alegria, de afetividade , nos faziam entender a importância das avós em nossas vidas.Com elas, podíamos chorar, dizer o que sentíamos, porque o mínimo que obtínhamos era o seu acolhimento.

Olhando a face enrugada das minhas avós, eu percebia a velhice como algo bonito, natural que fazia parte da constituição da existência humana. Aqueles olhos azuis, cujos brilhos ofuscavam o cansaço das pálpebras, nunca saíram do meu pensamento diante tanta beleza e contraste. Com elas aprendi a olhar as rugas, não como algo que não deveriam fazer parte daqueles rostos, mas ao contrário, como algo que fazia parte do momento delas, em cada estágio das suas vidas. Elas não tinham vergonha de dizerem suas idades, nem muito menos de mostrarem o mapa da sua existência através das rugas que avançavam de acordo com o passar do tempo. Será que elas agiam assim, porque na época não existiam botox, lifting, sculptra,?...ou porque os princípios eram consolidados na aceitação do curso normal da natureza?...

Na verdade, tenho medo da figura da avó cheia de ternura, ser substituída por avós neuróticas, como estou vendo ultimamente. O que observamos hoje, é uma sociedade onde as pessoas seguem como zumbis aos ditames de que o que importa não é obter a felicidade, mas sim a “perfeição”. E nesta linha de raciocínio, ser perfeito é se manter jovem, belo, nem que tenham que comprar a beleza “eterna”. E neste atalho para driblar a velhice, as pessoas se desencontram de si e dos outros. E ai, muitos netinhos perdem suas avós, que de maneira obssecadas, buscam formas de se aproximarem dos netos de maneira errada. Ao invés delas curtirem a reedição dos filhos através dos netos, elas querem buscar reedições das suas juventudes.

Peço à Deus que me ilumine bastante, para ter a oportunidade e o prazer de ser uma avó saudável e carinhosa, para brincar com meus netinhos e permitir-lhes passar as mãozinhas no meu rosto e distingui-lo do da mãe e de outras mulheres.

Enquanto isto vou aproveitando para continuar curtindo meus filhos queridos, enquanto meus netos não vem.

5 comentários:

  1. Amiga, eu tinha vindo também a este seu canto, aliás como sempre, venho aos dois blogues. E estão os dois lá na minha Mansarda. E até comentei, mas pelos vistos não assumiu.
    Pois eu dizia nesse comentário que tinha gostado muito deste seu post, acho-o lindo.
    A mim tocou-me especialmente, porque você sabe Mary, sou avó, tenho dois netos lindos (um menino de 8 anos e uma menina de 5), ambos filhos do meu filho mais velho. Do mais novo não tenho ainda netos.E quando vierem estarão por lá por Amesterdão. Se já assim vou lá de 2/3 meses,imagine quando tiver lá um neto/a. Muita viajem vou ter de fazer. Amiga, tento dentro do meu possivel (porque trabalho muito) passar o mais possível com os meus netos. Passeamos, vamos ao cinema ou ao teatro, aos museus adequados para eles,leio-lhes e conto-lhes muitas histórias, que invento na hora. Temos caminhado muito os 3 por Lisboa. São pequenos, mas conhecem já os locais mais bonitos da nossa cidade, que tenho feito questão de lhes mostrar. Acho que sou uma avó muito presente. Os meus meninos podem sempre contar comigo. Um dia você saberá como é, este amor tão terno e doce que sentimos pelos filhos dos nossos filhos. A propósito estou a adorar estas músicas que estou no momento aqui a ouvir. Me diz quem é. Neste momento é um dueto. Beijinhos minha querida, quando é que você vem até cá?

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  2. Que linda avó tú és Mariinha!...acho que vou ser tb assim quando chegar a minha vez. Devo ir à Lisboa em janeiro ou fevereiro...pegar um pouquinho do frio, só para ter o pretexto de usar aquelas roupas de inverno lindérrimas de vocês.
    Bjs

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  3. Este post me tocou. Me remeteu a minha infância, na minha relação com meus avós.Muito bom.

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  4. Meus antepassado por força da tradição Uzbek são reverênciados mensalmente. E isso se faz de forma dinástica...Não sigo a tradição ocidental mas respeito essa tradição... Excelente texto.
    Sbe dque é fácil chegar aqui... O díficil é sair, porque as energias são muito boas...

    Bjuss, com muitas bençãos!!!

    Hod.

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  5. Legal, Ricardo....também sou muito afetada por estas questões de família, principalmente a tudo que liga a minha história com meus avós.

    Hod , querido!...o que seria este blog sem a sua participação?

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